Banco de Leite Humano de instituto da Fiocruz completa 80 anos


O Banco de Leite Humano (BLH) do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira da Fundação Oswaldo Cruz (IFF/Fiocruz) comemora nesta terça-feira (3) 80 anos de fundação e dedicação à saúde materno-infantil. Até a década de 1980, a instituição deu origem a apenas cinco bancos de leite humano.

Daí em diante, a rede se expandiu e, atualmente, conta com 229 bancos de leite e 234 postos de coleta, informou à Agência Brasil Danielle Aparecida da Silva, coordenadora do BLH do IFF/Fiocruz.

O estado de São Paulo detém o maior número de bancos, 58, e tem 50 postos de coleta. O Distrito Federal (DF) é a única unidade federativa que alcançou autossuficiência em leite humano. Em todas as unidades hospitalares do DF não se utilizam mais fórmulas, pois o volume de leite humano doado é suficiente para dispensar o uso delas na alimentação de recém-nascidos prematuros, destacou Danielle.

No ano passado, os BLHs de Brasília coletaram 15.171 litros de leite humano, que alimentaram 14.577 recém-nascidos prematuros internados nas unidades neonatais de terapia intensiva. Esse leite foi doado por 5.578 mães. Brasília tem 14 bancos de leite e sete postos de coleta.

Em todo o Brasil, foram coletados no ano passado 234 mil litros de leite, doados por 196.757 mulheres e direcionados para 222.750 crianças. Na série de 2000 a 2022, foram doados 3.432.709 litros de leite humano, que beneficiaram 3.504.381 prematuros. No total, foram 3.031.637 doadoras que atenderam 37.717.921 mulheres assistidas. A proporção é de uma mulher doadora para 12 assistidas pelos bancos de leite.

Importância da doação

A enfermeira do IFF Maíra Domingos foi doadora de leite durante o primeiro ano da filha, Laura, que hoje está com 2 anos de idade. E voltou a doar leite agora, com o segundo filho, Lucas, que domingo (1º) completou um mês. Doar leite é “doar cuidado, esperança, em cada gota de leite, para todos aqueles bebês que estão na UTI neonatal e suas famílias, que estão vivendo momentos difíceis. E esse leite materno, que pode salvar a vida deles, é também um cuidado meu de alguma forma com essas famílias. Eu me sinto privilegiada por poder ajudar essas famílias, especialmente os bebês”, diz a enfermeira.

Ela sempre incentiva outras mulheres que estão amamentando a doar leite. “Sempre que posso, converso com outras mães, amigas e familiares, e [aconselho] quem está amamentando a doar, nem que sejam poucas gotinhas. Porque essas poucas gotinhas, segundo o Banco de Leite Humano, são uma preciosidade para eles. Esse pouco representa muito para os bebês.”

Protagonismo

As comemorações pelos 80 anos do Banco de Leite Humano terão início às 11h45, no Salão Nobre do Colégio Brasileiro de Altos Estudos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ),  no Flamengo, zona sul do Rio. Na programação, será apresentado o que a instituição planeja para os próximos anos. “Primeiro, é revisitar o nosso passado, para fazer o planejamento para o futuro; ver como a gente evoluiu, avaliar os nossos ganhos.” Será um encontro de gerações entre quem já trabalhou no banco de leite e quem está trabalhando hoje.

À tarde, haverá sessão sobre o aleitamento materno na rede de bancos de leite humano e sobre o protagonismo da mulher nessa ação. “Porque esse é o grande diferencial do nosso modelo.”

Danielle ressaltou que os bancos de leite estrangeiros dão prioridade à parte da pasteurização, do controle de qualidade e da doação ao bebê. “O modelo brasileiro trouxe para o centro da cena a mulher, a importância do apoio ao aleitamento materno, da proteção e promoção do aleitamento materno. Então, é justo ter uma sessão dedicada ao aleitamento materno, tendo como ponto focal uma conversa sobre a mulher como protagonista dessa ação.”

Tecnologia

Na quarta-feira (4), será discutida a tecnologia que vem sendo aplicada nos bancos de leite humanos. Na ocasião, será firmada  uma proposta de convênio com o Instituto de Laticínios Cândido Tostes (ILCT), de Minas Gerais. “Além do termo de cooperação com o ILCT, da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), será lançado um curso de especialização em aleitamento materno para o Sistema Único de Saúde (SUS) e para a Rede de Bancos de Leite Humano da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (rBLH – CPLP)”, informou Danielle.

Será apresentado também o Observatório da Rede BLH, que vem sendo construído. A ferramenta vai avaliar o crescimento da rede em tempo real. O IFF/Fiocruz lançará também edital para escolha da logomarca alusiva aos 80 anos do BLH. “Vamos abrir para toda a sociedade um edital para escolha de uma marca para usar no período em que estamos entrando”. Amanhã o edital será publicado na página da rBLH na internet, onde os interessados poderão acessar o regulamento para criação da logomarca e onde poderão inscrever seus trabalhos.

Danielle Silva adiantou que serão lançados dois projetos da rBLH, um dos quais referente ao aleitamento materno inclusivo na rede. “[Isto] pensando em ir além do que a gente já faz na nossa rotina diária, pensando nas famílias de pessoas com deficiência, na mulher PcD [pessoa com deficiência] que amamenta, que tem um bebê PcD, e em como a gente pode ampliar o apoio a essa população”. O segundo projeto virá junto com o curso de aleitamento materno do ILCT, visando incluir posto de coleta de leite humano dentro da atenção básica à saúde.

Também estão previstas celebrações regionais pelos 80 anos da rBLH até 2024, sendo a última atividade festiva realizada em maio, coincidindo com o Dia Mundial de Doação de Leite Humano e com o centenário do IFF, que sempre abrigou o BLH. A logomarca ganhadora será usada até este momento. As festividades incluem o 7º Congresso Brasileiro de Bancos de Leite Humano e o 4º Fórum de Cooperação Técnica Internacional em Banco de Leite Humano, previstos para 2024 e terão como tema central Quatro décadas de inovação, solidariedade e da construção da excelência em Bancos de Leite Humano.

Hoje e amanhã a programação será transmitida ao vivo pelo canal da rBLH no Youtube.



EBC

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